Friday, February 16, 2007

Envelope 9: PS e BE apontam contradições Dias André e ex-PGR

PS e Bloco de Esquerda apontaram contradições entre o depoimento feito esta quinta-feira pelo inspector da Polícia Judiciária, Dias André, e as declarações prestadas na semana passada pelo ex-procurador-geral da República Souto Moura à comissão de inquérito «Envelope 9».

Perante este cenário, PS e BE admitiram que a comissão pode ter de ouvir os procuradores que investigaram o processo Casa Pia, mas adiaram a decisão até à audição da inspectora da Polícia Judiciária (PJ) Rosa Mota, que trabalhou como coordenadora na equipa de Dias André, e que deverá ser ouvida na próxima quarta-feira.

Hoje, o inspector Dias André, que chefiou a equipa de investigação na PJ sobre o processo Casa Pia, entretanto aposentado, disse à comissão que a disquete com os elementos relativos ao então arguido Paulo Pedroso foi analisada pela Secção de Tratamento e Análise de Informação (STAIC) da PJ e depois devolvida ao Ministério Público.

«Quando chegou a primeira disquete com os elementos relativos ao então arguido Paulo Pedroso foi levada ao STAIC para tratamento», disse, salientando que esse era o procedimento habitual e que a sua equipa nunca abriu qualquer suporte informático.

Na semana passada, Souto Moura afirmou perante a comissão de inquérito estar convencido de que as disquetes que compõem o «Envelope 9» nunca foram abertas pela PJ nem pelos procuradores do Ministério Público, «ficaram esquecidas» mas foram anexadas ao processo Casa Pia.

O «Envelope 9», anexo ao processo Casa Pia, consiste em disquetes disponibilizadas pela PT em 2003 com facturação detalhada do ex-deputado do PS Paulo Pedroso, então considerado suspeito, e outros titulares de órgãos de soberania sem relação com a investigação.

«Até agora tínhamos tido a informação de que as disquetes tinham ficado esquecidas no Ministério Público e que nunca ninguém tinha aberto os filtros. Acabámos de ter uma versão distinta», resumiu o deputado do BE Fernando Rosas, no final da audição.

«Eu não sei se poderemos prescindir de ouvir algum dos procuradores sobre esta questão», afirmou Rosas, que antes da audição de Dias André tinha deixado cair um requerimento onde pedia precisamente os depoimentos de João Guerra, Paula Soares e Cristina Faleiro.

Também a deputada socialista Helena Terra sublinhou que a comissão não pode apurar factos enquanto não resolver «contradições fundamentais».

«Era prudente ouvir a coordenadora Rosa Mota, se subsistirem as dúvidas podemos ter de insistir na presença dos procuradores», disse.

Na audição de hoje, Dias André explicou que, quando a primeira disquete relativa a Paulo Pedroso estava a ser analisada pelo STAIC, o Ministério Públic o alertou que tinha chegado «mais informação» relativa ao ex-deputado socialista.

«Na altura disse ao dr. João Guerra que já lá tínhamos essa informação», afirmou, explicando que nunca recolheu esses elementos que supõe que tinham ficado na posse do Ministério Público.

Os deputados questionaram o inspector sobre o tipo de suporte informático em que estava guardada esse segundo conjunto de informações - CD ou disquete - mas Dias André não soube responder, dizendo não ter chegado a ver esses elementos.

Na semana passada, Souto Moura afirmou que a facturação detalhada do telefone fixo de Paulo Pedroso voltou a ser pedida à PT pela equipa de procuradores do Ministério Público, sendo remetida num CD, que, esse sim, foi analisado.

«O ex-PGR disse que as disquetes nunca tinham ido para o STAIC, o que tinha ido para o STAIC foi um CD. Este depoimento vem dizer exactamente o contrário: foi a disquete com a facturação detalhada de Paulo Pedroso que foi a STAIC e voltou», afirmou Fernando Rosas.

PSD e CDS-PP não manifestaram certezas de que existam contradições entre os depoimentos de Dias André e Souto Moura, lembrando que são cinco as disquetes que compõem o chamado «Envelope 9» e que o inspector da PJ apenas falou numa disquete com elementos relativos a Paulo Pedroso.

«Poderão não estar a falar na mesma informação», afirmou Montalvão Machado.

Na próxima quarta-feira, à noite, a comissão de inquérito deverá ouvir, além da inspectora da PJ Rosa Mota, a técnica informática da PT Ana Paula Fernandes.

Ana Paula Fernandes, que já foi ouvida pela comissão a 4 de Janeiro, foi a técnica da Portugal Telecom que em 2003 recolheu os dados telefónicos e introduziu um filtro no ficheiro de Excel que viria a constituir o chamado «Envelope 9» anexo ao processo judicial Casa Pia.

Diário Digital / Lusa

15-02-2007 20:42:00

Post por: Lucifer88

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